Alguma vez te perguntaste porque é que não gostas de certas obras de arte?
Ontem fui ver um filme (Sirât). Não é um filme típico. Irritou-me. Algumas partes até me deixaram mesmo zangada, confesso. Saí de lá a sentir sinceramente que não tinha gostado nada. Fui com uma amiga, e não consegui evitar comentar a inconsistência de algumas partes da história, certas coisas que não estavam feitas “como deve ser”, as personagens irritantes a tomarem “más decisões” e, claro, a sofrerem “as consequências”.
A minha amiga passou o filme todo a mandar-me calar, coitadinha. Não consegui conter-me, mas fiz o melhor que pude para guardar os pensamentos para mim.
No fim do filme, trocámos impressões. Ela teve uma interpretação interessante do filme, mas eu estava demasiado focada nas coisas que não gostei.
Hoje, durante a minha meditação matinal, refleti sobre a minha atitude de ontem. Não de forma julgadora, mas com curiosidade e abertura.
Sou uma criadora e fazedora. Uma pessoa muito criativa que também tem uma forte capacidade de transformar pensamentos em ação — uma artista e uma engenheira. Sei fazer muitas coisas e, quando não sei, confio na minha capacidade de descobrir, aprender e, pelo menos, tentar; e na maioria das vezes sou bem-sucedida (não é gabarolice, por favor segue o meu raciocínio).
Mas tendo a focar-me demasiado nessa parte de mim. Esqueço-me de como ser “espectadora”, observadora, ouvinte, porque é muito mais fácil e natural para mim escutar a minha própria voz interior.
Mas a verdade é que a vida é suposto ser um equilíbrio. Fomos feitos para ser artistas e fãs, criadores e espectadores, para dar e receber. Há momentos para fazermos as coisas à nossa maneira, e há momentos para apreciar a forma como os outros as fazem.
Eu nunca teria escrito nem realizado um filme como Sirât. Na verdade, nem teria ido vê-lo se não fosse pela minha amiga. Conseguiu irritar-me, provocar reações e emoções fortes. Mexeu comigo, fez-me pensar, e acabou por me levar a perceber algo sobre mim mesma — talvez até sobre todos nós.
Sempre pensei que certa arte não é para toda a gente, mas hoje penso diferente. Toda a arte é para todos. Se não gostas de algo, pergunta-te porquê; talvez te ensine mais do que a arte que amas.